29 de novembro de 2011

A Irrelevância da Música

Qual o seu artista musical preferido? Ah sim, claro. Ele/ela tem realmente uma beleza estonteante. E sua atitude é sem dúvida parte intrínseca de sua arte. As letras das músicas são verdadeiros poemas, talvez em línguas mortas ou dissecando problemas sociais. Inegável dizer, também, que suas roupas, seus conflitos e as declarações na mídia são totalmente coerentes com sua revolta contra a sociedade. Mas.... espere.... e a sua música?

Geralmente, quando se fala de música, é ela própria o que menos importa. Por mais paradoxal que possa soar esta afirmação, ela é plenamente verificável em qualquer discussão a respeito do assunto. Seja na informalidade de uma mesa de botequim ou na mídia mais especializada, há quase sempre uma série de fatores que se sobrepõem ao dado sonoro, obstruindo sua apreciação.

Recebi muito recentemente um link, por compartilhamentos de redes sociais, do Paulo Raposo, um compositor do Vale do Paraíba, São Paulo, mais precisamente de Pindamonhangaba. O link em questão é o texto intitulado A Irrelevância da Música, publicado em março de 2008 no portal Trópico da UOL, de autoria de Matheus G. Bitondi, e que discursa sobre a minúscula importância real que se dá à música quando falamos de música.

E o mais interessante é que o texto não se limita à música popular, como se poderia supor. A própria música erudita, com seus "deuses" inatingíveis, é colocada em foco.


Enfim, um texto que vale a pena ser lido e ponderado.

28 de novembro de 2011

Autores, Leitores e outras promoções...


No Brasil existem muitos autores, contudo, a grande maioria sofre para lançar seus livros, além de muitas outras dificuldades, que os tornam verdadeiros guerreiros. Erika Monterisi é um deles...

A internet se tornou uma ferramenta aliada dos autores, que inovam sua relação com leitor, tornando-a mais próxima, além de criar novas formas de divulgação do seu trabalho.

Uma dessas formas são as parcerias com blogs, que praticam sorteios, possibilitando aos leitores chances de conhecer autores nacionais. O site Viagem Imaginária é um desses e está com uma promoção até o dia 15/12, para sortear o livro Sol & Lua!

Vale a pena conferir!

Para resenha do livro leia a resenha do Sonata Escarlate sobre Sol & Lua.

Vida e Morte da Porraloca!


Ninfomaníaca? Bêbada? Viciada? Não existem adjetivos próprios e impróprios que descrevam Rê Bordosa. A diva do mundo underground é uma criação do cartunista Angeli.

Criada em 1984, Rê Bordosa era o símbolo de uma época: mulheres entrando na meia idade que viviam seus problemas existenciais em meio ao sexo livre, drogas e tudo o mais que viesse. Uma personagem de caráter escrachado e sem qualquer pudor, o que confere todo seu charme.

Personagem de maior sucesso de Angeli, Rê Bordosa fez sua primeira aparição na antiga revista Chiclete com Banana, e fez grande sucesso. Tamanho, que foi morta pelo autor, para que ela não estigmatizasse a carreira do mesmo. Aqui uma entrevista retirada do site Universo Hq, onde o autor comenta sua conturbada relação com a personagem:

Pergunta - Exatos 13 anos depois da morte da Rê Bordosa, a personagem ainda te incomoda?

Angeli - Bom, creio que não me incomoda mais. Até porque o que mais me angustiava era a possibilidade da existência dela se tornar um grude na minha carreira. Daí a decisão de matá-la.

Pergunta - Você já comentou que começou a se sentir incomodado com a possibilidade da personagem ficar maior do que o autor. Foi isto que o levou a parar de publicar tiras da personagem?

Angeli - Sim, é verdade. Sempre me irritou muito em entrevistas de outros desenhistas aquela coisa do "mundo encantado de Maurício de Sousa", ou "mundo encantado de Saci Pererê" (Ziraldo). Enfim, o mundo encantado de qualquer coisa. O meu projeto não tinha muita pretensão de seguir uma trajetória específica, mas a visão que eu tenho do meu trabalho é que, no todo, ele resulte em uma crítica de comportamento, no qual todos os personagens, charges e textos se juntem em uma crítica só.

Pergunta - No caso de Rê Bordosa, a personagem seguiu um caminho diferente, fugiu a seu controle?

Angeli - Quando eu percebo que alguma coisa está tomando um rumo que sai um pouco fora deste projeto, começa a me incomodar. E a Rê Bordosa, de alguma forma, estava apagando o brilho dos outros personagens.

Pergunta - Como assim?

Angeli - Ela era uma personagem muito forte e gostosa de trabalhar, mas problemática. O meu medo foi sempre de ter que carregá-la e me ver obrigado a desenhá-la até por uma questão de mercado. O leitor gosta, funciona, claro. Mas se eu fosse fazer um livro tinha que botar ela na capa, e isso começou a me incomodar. Qualquer proposta que de trabalho, era com a Rê Bordosa em primeiro lugar. E meu objetivo era fazer uma coisa mais ampla do que uma personagem.

Pergunta - A Rê Bordosa foi assassinada há 14 anos. Ela era muito voltada a mulher daquela época (1984 a 1987). Você acha que atualmente existem muitas Rê Bordosas por aí?

Angeli - As leitoras da época da Rê Bordosa continuam muito fiéis a ela. As mulheres de hoje que não a leram, possuem os mesmos problemas que ela tinha na década de 80. Creio que agora a autodestruição, através do sexo, do álcool e do cigarro é menor. Esta geração ainda tem um sentimento de culpa, problemas de adequação com o sexo oposto, com uma sociedade machista e também diante do que as mulheres acham o que é certo ou errado.

Pergunta - Como você contextualizaria sua personagem naquela época?

Angeli - A Rê Bordosa era um corpo estranho no movimento feminista ou machista, seja o que isso fosse. Então, hoje em dia ainda tem esses problemas, mas a forma de atuar é diferente. Talvez a droga que se usa hoje seja diferente e o álcool não esteja tão presente. E tem também a AIDS, que mudou muito o comportamento das mulheres.

Pergunta - A Rê Bordosa nasceu em 1984 e morreu em 1987. A AIDS já estava começando a ser discutida. Hoje, você acha que, com o tempo, a AIDS poderia mudar o comportamento da personagem?

Angeli - Acho. Eu não gostaria de mudar o meu personagem por causa de uma doença que surgiu. Mas, sem dúvidas, o comportamento sexual da mulher de hoje mudou. Fazer loucuras sexuais não é mais a mesma coisa de quando a Rê Bordosa fazia. Como, por exemplo, levar um time de futebol para dentro da banheira. Acredito que isto não existe mais.

Pergunta - Em algum momento da vida você se sentiu Rê Bordosa?

Angeli - Pode falar de uma década toda (risos)

Pergunta - Conte uma história de Rê Bordosa que você tenha vivido...

Angeli - Uma vez rolou uma bebedeira muito grande, e eu e o Homero (amigo de infância) acabamos presos na 4ª delegacia. Fizemos um teatro lá dentro, estávamos tão bêbados que começou a achar engraçado tudo aquilo. Tomamos umas porradas e pontapés e mandaram a gente embora.

Tinha um poste na frente da delegacia, e a coisa que nós dois mais queríamos era fazer xixi. Então, descemos as escadas, paramos no poste e começamos a mijar, um de cada lado do poste. Acho que isso é uma atitude de Rê Bordosa.

Tem também um outro caso que aconteceu em Ouro Preto, Minas Gerais. Eu e Glauco (cartunista) ficamos bebendo uma semana inteira, e fomos atrás das menininhas da cidade. Nessa mesma viagem, arrumei uma namoradinha e fui para a casa dela. Fiquei lá um tempo, namorei e tudo. Umas 6h da manhã, eu falei: "Não vou dormir aqui, vou para minha casa". Saí de lá, mas esqueci que Ouro Preto é feita de ladeiras intermináveis, e eu não havia calculado o quanto tínhamos andado de madrugada até chegar na casa da menina. E foi um sufoco até chegar no hotel, eu me arrastava por aquelas ladeiras, com os bofes para fora. De repente abrem uma fresta de uma janela e gritam: "Aí, Angeli, tá longe de casa, hein, meu?" Eu só consegui lançar uns grunhidos, mas não tinha nem ideia de onde vinha o grito.

Para matar a saudade dos fãs, a Devir / Jacarandá lança uma coleção com as obras de Angeli. Rê Bordosa, vida e obra da porraloca é o terceiro volume da série Sobras Completas do autor.

Outra grande homenagem à personagem foi Dossiê Rê Bordosa, um curta metragem, feito em stop-motion, dirigido por César Cabral, que tenta explicar os motivos que acarretaram a morte de Rê Bordosa por seu próprio criador, o cartunista Angeli.




Links:

Sites Interessantes:
  • Universo Online - onde se encontra uma novela feita especialmente para internet, em que o autor ressuscita sua falecida personagem.
  • Dossie Rê Bordosa - um site onde você pode encontrar maiores informações sobre o curta.
  • Devir - site onde você pode encontrar informações sobre as publicações de Angeli.

12 de novembro de 2011

Herança

Lágrima
De onde saíste
Se não te dei asas?


Teu reflexo marca
As feições de tua raiz
Sente
Teus dedos tocam
A pele como tua origem

Olhar e não ver
Não senti mais
Como não existisse
Remontei o cenário
Recomecei a peça
Juiz, meu júri
E meu réu

Troca
É isto o teu abraço?
São aqueles os braços
Os laços que querias?

Ou tua fome ilusionou
A face fraca do tolo
Em fortaleza incorruptível
De onde sairia teu sangue?

Pois dali saiu
É este teu sangue
O mesmo fraco fugitivo

Toca teu corpo
Fala
Cada palavra tua
É o eco da intolerância
Cada gesto teu
É teu gesto ancestral

Livre?

Culpa de ser e não ser
Sentir sem sentir
Há aquele ainda?
São as cinzas amontoadas
Sujando teu lar

Pensar ainda
Ouvir não mais
Não ver nem lembrar
Mas o vadio pensamento
Dilacera teus passos

Imagens e sons e toques
Troca, apenas foi isso
A moeda que repousa
Em outro bolso lotado

E sempre
Sempre

Então olha
Tua carne é fraca
Teu sangue é podre
Teu horizonte é finito
Mas chora
Ao menos isso
É teu, não de teu par

Lágrima
Por que saíste
Apenas para desabar
O cenário do espetáculo?



Escrito no Circo em 11/11/2011, à 01:48 AM

Ouvindo Stairway to Heaven, Led Zeppelin

Imagem: Welcome Home by Pajunen

7 de novembro de 2011

É Dura a Vida no Campo

Procurando por tirinhas humorísticas para utilizar em trabalhos escolares, deparei-me com o autor Sávio Moura e sua obra É dura a vida no campo. Quadrinhos bem humorados, que possuem como pano de fundo a vida no campo dos pampas.

Não há como não rir com os personagens: Chiru Velho, Dona Palometa, Virso, Juracema, Chumim, O Porco, O Cavalo, A Coruja e O Galo. Com um humor simples, o autor explora toda a cultura gaúcha e o cotidiano do campo de forma espirituosa.


Um pouco do autor...


Sávio Moura nasceu em 18/07/1965, na cidade de São Luiz Gonzaga (região das Missões, noroeste do estado do Rio Grande do Sul). Vivendo em meio a cultura missioneira, se encantando pelos artistas Pedro Ortaça, Cenair Maicá, Jayme Caetano Braun e Noel Guarany (que formam o grupo Quatro Troncos Missioneiros), que valorizam e cantam a cultura da região sulina.

Em 1994, passou a colaborar no jornal A Notícia, como chargista. Dedica-se desde 2006 à tira É dura a vida no campo, criada para concorrer na 2ª Mostra de Artes do Atelier Los Libres.

No ano de 2007, recebeu uma homenagem na 2ª Feira do Livro Infanto Juvenil, realizada pela Prefeitura de São Luiz Gonzaga - SEMEC.

Abaixo seguem trechos de uma entrevista dada pelo autor ao jornal A Notícia (para ler na íntegra visite a página da entrevista):

A NOTÍCIA: Como surgiu a ideia de fazer a história em quadrinhos “É Dura A Vida no Campo”?

SÁVIO: Historicamente, quase todos os personagens de histórias em quadrinhos tiveram origem em tiras de jornais. Então considero uma evolução natural a criação de um gibi com os personagens da tira “É Dura a Vida no Campo”.

O projeto iniciou ainda em 2009, mas, pela sua complexidade, levou algum tempo para ser concretizado. Com tranqüilidade e com as histórias definidas, o projeto foi apresentado para a Editora Cassol, de Porto Alegre, que se interessou no gibi. Como o tema proposto vai de encontro ao que a editora trabalha, que são nossas tradições gaúchas, acredito que será uma boa parceria.

A NOTÍCIA: Quais as diferenças entre os livros publicados com as tiras de jornais e a revista?

SÁVIO: A produção de uma tira de jornal é muito rápida, pois a idéia já vem pronta, e o desenho pode ser feito em um instante. No gibi, as exigências quanto ao acabamento final é maior, e a produção de uma história leva mais tempo.

Os livros contêm todas as tiras publicadas, desde a primeira. São registros valiosos da evolução da história, com o surgimento e desenvolvimento de cada personagem. São edições luxuosas, e de custo mais elevado. Foi a partir daí que senti a necessidade de ter uma publicação mais acessível. A tira “É Dura a Vida no Campo”possui personagens fortes, com condições de sustentar histórias mais longas. Eu próprio tinha muita curiosidade de saber como o Chiru Velho e Cia. se comportariam em aventuras mais longas. E gostei muito do resultado final.

A NOTÍCIA: Como foi o processo de criação das histórias da revista?

SÁVIO: A criação das histórias seguiu um planejamento inicial: deveríamos ter uma história de mistério com o Chiru Velho, uma de romance com o Virso e a Juracema, e outra com o Porco e os bichos. A criação é completamente diferente de uma tira. Como são historias mais longas, é necessário seguir um plano: primeiro, faz-se uma resenha da história imaginada; ou seja, contar toda ela em texto. Baseado nisso, pode-se fazer o roteiro, que é um rascunho da história definindo o que irá em cada quadrinho. Com o roteiro definido, se começa o desenho a lápis. Depois, é hora da arte final, em nanquim. Em seguida, o desenho passa para o computador, para colocação dos diálogos nos balões e colorização. Após a revisão, a empresa de design faz a adaptação para as exigências da gráfica, a qual é contatada pela editora.

Para mais informações visite o site do autor.

6 de novembro de 2011

Flor de Neve e o Leque Secreto


Flor de Neve e Lírio são duas meninas que vivem na China do século 19. Embora vivam em condições de vida diferentes, elas possuem as mesmas obrigações: a de serem esposas perfeitas de maridos que nunca viram. A única escolha de uma mulher seria a da amizade, assim elas se tornam Iaotong, amigas por toda eternidade.

Mais tarde separadas elas passam a se comunicar por meio de leques, onde escreviam utilizando a escrita Nushu, conhecida somente por mulheres.

Paralela as histórias de Flor de Neve e Lírio, Nina e Sophia, duas amigas que vivem no século 21, descobrem a beleza da tradição do Iaotong, mas também descobrem a dificuldade de mantê-lo atualmente.


Flor de Neve e o Leque Secreto é baseado no livro de mesmo nome da autora Lisa See, e apresenta de forma sensível o universo dessas mulheres que sofriam a mutilação de seus pés, pois isso era o padrão de beleza da época. Embora aparentem fraqueza, as mulheres possuíam um universo único, paralelo ao mundo em que viviam. Tal universo ao meu ver é representado na escolha do Iaotong, o laço de amizade e amor que unia duas mulheres.

Contudo, o filme apresenta paralelamente a história de Nina e Sophia, que embora vivam em uma sociedade menos opressora, também possuem suas obrigações e tragédias pessoais. Assim, elas encontram na tradição do Iaotong uma forma de superação.

As duas tramas são emendadas, colocando uma nova perspectiva na história, que até então girava somente em torno do laço forte de amizade.

O silêncio que muitas vezes toma conta da cena é impressionante, sendo então completado por uma trilha sonora tocante. O filme conta um segredo para o espectador, e aqueles que interagem com as personagens parecem alienados, muitas vezes não compreendendo o comportamento das Iaotong.

Por fim, o filme termina com cenas belíssimas de telas em preto e branco.

Vale a pena conferir!