12 de novembro de 2011

Herança

Lágrima
De onde saíste
Se não te dei asas?


Teu reflexo marca
As feições de tua raiz
Sente
Teus dedos tocam
A pele como tua origem

Olhar e não ver
Não senti mais
Como não existisse
Remontei o cenário
Recomecei a peça
Juiz, meu júri
E meu réu

Troca
É isto o teu abraço?
São aqueles os braços
Os laços que querias?

Ou tua fome ilusionou
A face fraca do tolo
Em fortaleza incorruptível
De onde sairia teu sangue?

Pois dali saiu
É este teu sangue
O mesmo fraco fugitivo

Toca teu corpo
Fala
Cada palavra tua
É o eco da intolerância
Cada gesto teu
É teu gesto ancestral

Livre?

Culpa de ser e não ser
Sentir sem sentir
Há aquele ainda?
São as cinzas amontoadas
Sujando teu lar

Pensar ainda
Ouvir não mais
Não ver nem lembrar
Mas o vadio pensamento
Dilacera teus passos

Imagens e sons e toques
Troca, apenas foi isso
A moeda que repousa
Em outro bolso lotado

E sempre
Sempre

Então olha
Tua carne é fraca
Teu sangue é podre
Teu horizonte é finito
Mas chora
Ao menos isso
É teu, não de teu par

Lágrima
Por que saíste
Apenas para desabar
O cenário do espetáculo?



Escrito no Circo em 11/11/2011, à 01:48 AM

Ouvindo Stairway to Heaven, Led Zeppelin

Imagem: Welcome Home by Pajunen

Um comentário:

  1. Talvez as lágrimas tenha saído para deixar o espetáculo ainda mais belo, mais sentido e mais inesquecível.

    Estou te seguindo. Uma boa semana.

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