8 de outubro de 2009

Incolor






Meus olhos ardem
Meus dedos não congelam, nem queimam
A ave pálida do Nada pousa
Em ombros que já não a sentem

Meus olhos ardem
E o tempo só esbarra no corpo
No rosto seco que já chorou
Que se fecha num poslúdio sem sabor

Meus olhos queimam
E carícias já não bastam
Notas leves os ouvidos não querem
Eu quero o sforzando de um presto final

Meus olhos queimam
E o corpo pede alimento, negado
Os braços querem calor, negado
O abismo me fita mais uma vez

Meus olhos falham
E a maldita névoa renasce
Com um riso de hiena
E garras - letras indistinguíveis

Meus olhos falham
E a pele pede perfumes
E o pescoço pede teu toque
De puro gelo, delicioso azul

Meus olhos erram
Aquela linda sombra a voar
É reflexo, refração de uma tolice
Idiotice pura de um louco

Meus olhos erram
E as cores dizem adeus
Não brincam em minhas retinas
Em meus salões, agora dançam

Meus olhos pedem
Uma voz, uma cadência menor
Uma diminuta cravejada de dissonantes
E dedos dançantes, ballet sem som

Meus olhos pedem
O que já não posso criar
Meus dedos mortos levantam
Para apenas manchar o papel

Meus olhos gritam
A agonia delicada do incolor
A fuga desesperada no silêncio
O staccato do toque, inerte

Meus olhos gritam
A noite os abraça - escuro
Meu lar, à negra luz,
Multicolorido Vazio dos sons.

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Escrito em 21/09/2009.
Ouvindo Sonata ao Luar, Adagio Sustenuto - L. v. Beethoven

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